O Contexto Social Atual em Portugal

Sinceramente, não sei por onde começar. Por um lado, a morte de Odair Moniz trouxe à tona a alegada persistência do racismo em Portugal em 2024; por outro, serviu de pretexto para uma série de manifestações desproporcionais. E qualquer pessoa que não tenha a capacidade para identificar estes dois polos, é porque faz parte de um deles.

A visão da falta de razoabilidade na análise a este caso é tão clara que hoje, 26 de Outubro de 2024, milhares de pessoas se manifestaram em Lisboa para exigir justiça pela morte de Odair Moniz. O movimento Vida Justa, com o apoio de partidos como o Bloco de Esquerda e o Livre, denunciou a violência policial contra comunidades marginalizadas, enquanto o partido Chega defendeu o trabalho da polícia. 

Ora durante anos, partidos dos dois extremos se queixaram de que as pessoas só votam no PS e no PSD - se calhar, por serem razoáveis. Tanto não é razoável dizer que devemos condecorar polícias quando matam pessoas, também não é razoável associar uma ação de um polícia com 21 anos de idade, numa intervenção noturna num bairro perigoso, a racismo. É a propagação da palavra destes dois extremos que está a causar os motins a que temos assistido - num autêntico fenómeno de angariação, traduzido em debate de ódio, do qual me vou distanciar. 

Longe vão os tempos em que os debates eram saudáveis e esclarecedores, porque quem neles participava procurava efetivamente ouvir. Hoje, em 2024, os debates são uma exposição unilateral de ideias. Nem a parte que as "despeja" está minimamente preocupada com a forma construtiva com que o faz, para garantir a passagem da mensagem; nem a outra parte consegue adaptar a sua escuta, percebendo que vem de um espectro de opinião diferente, retirando dela um ou duas ideias chave (ou, admitindo nela o mínimo espaço para auto-reflexão).

Partimos de um mundo de razoabilidade, e chegámos a um outro sensacionalista - em que o escândalo impera. Desengane-se quem acha que voltar atrás não vai ter custos. O mais impressionante é que, hipoteticamente, num cenário em que tivéssemos que convencer todos do benefício de ter opiniões moderadas / razoáveis (e abertura para ouvir os outros), já teríamos nós mesmos de veicular a mensagem de forma sensacionalista - tal estão programados os cérebros, fechados a meios calmos de mensagem (percepcionados como aborrecidos) e a qualquer opinião que seja contrária (patéticas manifestações de promessas de honra, como se fossem altamente valorizadas).

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