A Diferença de Opinião
Contemplo o mundo atual e deparo-me com mudanças substanciais em relação ao mundo "de ontem", as quais lamento profundamente. E confesso que olho com alguma nostalgia para o passado, fazendo um difícil exercício de tentar enquadrar tudo o que ao longo da minha vida aprendi - educação, ensinamentos, experiência - no panorama social atual. Nos últimos dias, após uma intensa reflexão, cheguei à conclusão de que uma coisa que nos enriquecia enquanto indivíduos, enquanto seres humanos, parece ter-se diluído na correnteza das mudanças globais e permanece até hoje adormecida no passado: a diferença de opinião.
É provavelmente uma das primeiras lições de que me recordo na minha vida: por mais diferente que uma opinião fosse da minha, devia respeitá-la. E, também de forma respeitosa, eu poderia partilhar as minhas independentemente de quão distintas fossem das demais. Eram estas discussões que nos enriqueciam, permitindo-nos observar situações ou analisar temas sob uma perspetiva diferente, o que, de certa forma, nos desafiava. Vivemos hoje numa realidade em que se tornou erróneo opor-se ao que nos é maioritariamente apresentado como certo; e a opinião de muitos (ou mesmo de um só) é desvalorizada, desacreditada e ridicularizada.
A relevância das fontes de informação deixou de ser discutida – qualquer manchete sensacionalista é suficiente para validar uma informação e transformá-la em facto –, mas não é isso o mais importante. Porque, ainda que cada um acredite na fonte que quiser, ou que tenha formulado a sua própria opinião com bases às quais dê crédito, há uma sensação de limitação na partilha de uma linha de pensamento diferente, aparentemente minoritária.
“Se eu achar que a minha opinião vai contra o que está a ser veiculado como socialmente correto, eu privo-me de a dar / eu condiciono a maneira como a partilho”.
A liberdade de expressão está cada vez mais subordinada a uma dicotomia de certo e errado. Por mais respeitadores que sejamos, os nossos comportamentos encontram-se, hoje, profundamente condicionados pela perceção dos outros do que é correto ou incorreto, – mesmo que tal implique, claramente, hipotecar a nossa verdadeira opinião. Sinto que se perdeu a razoabilidade, o "espaço de diferença" entre extremos; ou que abdicámos da vontade de o cultivar – mediante uma conversa, um diálogo –, restringindo a nossa visão à existência de polaridades. "Ou pensa como eu, ou nem vale a pena."
Estou convicto de que não devemos renunciar a ouvir a diferença, a aceitar a diferença, a não a condenar. Não devemos desconsiderar uma opinião divergente, mas antes encará-la como uma oportunidade para dialogar sobre divergências, aprender com elas, e reduzir esse "espaço de diferença", recuperando a razoabilidade. A liberdade de expressão não é um direito exclusivo "nosso" para nos expressarmos. É também um direito dos que pensam de forma diferente. E as pessoas não devem ser canceladas apenas porque no exercício deste seu direito, e invocando a sua real opinião, não se enquadram no que nós entendemos como certo.
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